Crédito: Rafaela Gambarra
Eis a minha surpresa quando, ao entrar no avião, rumo ao Rio, dou de cara com a revista da Gol - imaginem só de quem eram os olhos verdes que estavam estampados na capa.
Exatamente. Chico.
E não foi só isso. Em cada esquina, uma referência a ele. Fosse a propaganda do show no outdoor estampado no meio da rua, fosse o novo CD na vitrine de uma lojinha no meio da cidade, fosse um livro novo (Para seguir minha jornada, de Regina Zappa - indico) sendo vendido na livraria da esquina.
No Rio, a cidade canta Chico e Chico canta a cidade.
A seguir, um trecho da matéria publicada na revista:
"Há duas características de Chico Buarque de Hollanda que ganham voo quando ele viaja. A primeira, mais conhecida, é seu lado andarilho. aonde quer que vá, Chico anda e desanda caminhos sem parar, com seus passos velozes e seu fôlego de atleta. A outra faceta, bem conhecida pelos amigos, mas quase invisível para o mundo, é o seu amor ágil e bailarino, capaz de inventar personagens, inventar que é quem não é, e fazer isso de forma totalmente desconcertante. Assume um ar de seriedade absoluta, o tom da verdade mais cristalina, para mentir desbragadamente.
(...)
Chico fazia uma turnê com o cubano Pablo Milanés. Vinham de Buenos Aires e de um êxito sem medidas. Certa noite, estávamos num táxi indo jantar. No banco de trás, o percussionista chico Batera, o produtor Vinícius França e eu (Eric Neomuceno, autor da reportagem). No da frente, ao lado do motorista, Chico.
O motorista volta e meia olhava para ele, tentando lembrar de quem se tratava. Um rosto conhecido, sem dúvida, que aliás estava em cartazes por toda a cidade. A certa altura, o motorista não aguentou e perguntou>
- Desculpe, mas conheço o senhor...
E aí começou uma das especialidades do chico viajante:
- Não, o senhor deve ter conhecido meu pai.
- Ah... e quem é o seu pai?
- Com a calma e a frieza de um cirurgião, veio a resposta:
- Manga. Lembra dele?
E assim, diante de um motorista atônito, ele virou filho do lendário goleiro do Botafogo, que em 1967 foi jogar no Nacional, do Uruguai, e virou ídolo do país. Chico então contou o que Manga andava fazendo, mencionou detalhes o pai dedicado que enchia o filho de orgulho. E, de tão feliz por ter conhecido o filho do grande Manga, que alias entendia de futebol quase tanto quanto o pai, o motorista não quis cobrar a corrida."
(em Revista Gol, número 118)
Nenhum comentário:
Postar um comentário