quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Gente Humilde

Crédito: Rafaela Gambarra
(No caminho para a Mangueira) 

 
"São casas simples
Com cadeiras na calçada
E na fachada
Escrito em cima que é um lar
Pela varanda
Flores tristes e baldias
Como a alegria
Que não tem onde encostar
E aí me dá uma tristeza
No meu peito
Feito um despeito
De eu não ter como lutar
E eu que não creio
Peço a Deus por minha gente
É gente humilde
Que vontade de chorar"
(Gente Humilde - Chico Buarque)

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Sonhos sonhos são

Confesso que tenho enlouquecido, aos poucos. Não têm sido raras as vezes que eu tenho sonhado com Chico. E eu brinco, falo que sou louca por ele, que não saberia reagir caso o visse no meio da rua, mas nunca fui dessas fãs muito alucinadas. Nunca fui fã (fã, mesmo) de ninguém, nem nunca consegui entender essa coisa de fã que fica aos berros tentando chamar a atenção do artista.

Agora, levei uma tapa na cara. Tenho dado pra sonhar com Chico... semanalmente. Ao menos devo dizer que os sonhos são ótimos. Da última vez, sonhei não com ele, mas com as músicas dele. Uma espécie de show, algo assim. Loucura. Loucura.

Por outro lado, tenho outra coisa para contar. Fiquei toda feliz, sorridente e serelepe quando recebi a resposta de um e-mail que havia mandado para o professor Rinaldo Fernandes (autor do livro "Chico Buarque do Brasil") e, nela, o contato do assessor de imprensa de Chico. Será que vou conseguir marcar uma entrevista com ele durante o período em que estiver fazendo a turnê em Recife? (Aos interessados, o show irá acontecer nos dias 19, 20 e 21 de abril, no Teatro Guararapes. Os ingressos, no entanto, ainda não começaram a ser vendidos).

Espero que sim. Cruzem os dedinhos comigo, por favor. Eu não sou louca. Não quero ficar plantada lá no hotel em que ele se hospedar, perseguindo-o, buscando uma brechinha.

(Mas se for preciso...)

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Acorda, amor

Como muitos dizem, hoje, finalmente, o ano começou. Para a maioria dos brasileiros, agora, sim, que passou o carnaval, é a hora de colocar os pontos nos is, de correr atrás dos sonhos e de fazer com que eles se realizem.

Eu, embora não tenha brincado carnaval, levei a sério isso de começar, hoje, na quarta-feira ingrata, a tirar os planos do papel. Só que, no meu caso, na verdade, comecei a colocá-los no papel!

Ainda terei o primeiro encontro com meu professor orientador, Thiago Soares, na primeira semana de março - assim que começarem as aulas. Mas, então, posso dizer que vou rascunhando. E o rascunho da primeira página está pronto. Saindo do forno.

A idéia é: a primeira música de Chico a ser explorada no livro será o "Samba do Grande Amor" (gravada em 1983, para o filme "Para viver um grande amor", de Miguel Faria Jr) , que faz referência ao Cristo Redentor ("fiz promessa até pra Oxumaré de subir a pé o Redentor.."). Lá de cima, conseguimos ver o Rio de Janeiro inteiro. Esse será, então, o primeiro capítulo, o ponto de partida.

Djavan e Chico cantando "Samba do Grande Amor" para o cd "Meus caros amigos"

A seguir, uma palhinha da primeira página para vocês. O primeiro parágrafo:

"Milhões de palavras, loucas, passeavam em meio à multidão. A cada passo dado, escutava centenas de sotaques. O "s" chiado do carioca, o "r" puxado do gaúcho, o arrastado inconfundível do baiano. Mais um passo e, surpresa, vi dezenas de outras línguas se esbarrando.  C'est l'amour. It's Rio! Mira el paisaje! Ja, God is Braziliaan!"

Espero que gostem!

Beijos,
Rafaela

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Sonho de um carnaval

Em todos os cantos, por todos os lados, sempre tem Chico no meio. Acho, inclusive, que já falei isso por aqui. No Rio, em cada esquina, em cada livraria, cada loja de CDs, de DVDs, Chico. Um livro sobre Chico, o novo DVD, a propaganda do show.
E aqui em João Pessoa não é diferente. A cada dia que passa, me surpreendo com a quantidade de chicólatras que encontro pelas ruas. Para alguns, um mito. Os olhos verdes, os olhos azuis. O compositor, o músico, o letrista. Aquele que transforma todos os homens em cornos potenciais. Para muitas mulheres, um sonho de consumo. Sonho de Carnaval.

No último sábado, 18, organizou-se um bloco no Sebo Cultural de João Pessoa intitulado "As raparigas de Chico Buarque". Infelizmente não pude comparecer, mas soube que foi um sucesso. As "raparigas de Chico" lotaram o local. Para as mulheres, o traje era uma rosa vermelha na cabeça; para os homens, camisa listrada azul e branco, chapéu e calça branca - estilo malandro.

Crédito: Internet


A seguir, o "hino" - divertidíssimo - do bloco:

"Nós somos raparigas de Chico
Nós somos las muchachas bacanas
Pra ele eu sou mulher folhetim
A ele só digo sim
Aqui e em Copacabana

Nós somos raparigas de Chico
E debochamos das mulheres de Atenas
Todo dia não faço tudo igual
Eu sou a rosa de Chico
Pra qualquer carnaval


Sempre fui traçada em miúdos pela sua canção
Com açúcar e com afeto é o poeta predileto para ter no coração
Com açúcar e com afeto é o poeta predileto para ser meu folião (bis)"

Letra: Ademilson José


Próximos passos: 
Escrever o primeiro capítulo, conseguir o contato com a produção de Chico para tentar uma entrevista com ele durante a turnê em Recife (cruzem os dedinhos comigo!), terminar de ler "Para seguir minha jornada - Chico Buarque" e perguntar a vocês o que acharam do novo layout do blog! Ficou lindo, não ficou?

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Subúrbio

Francisco Buarque de Hollanda, Chico Buarque de Hollanda ou, simplesmente, Chico. Ouvi, um dia desses, alguém comentando que achava engraçado isso de os seus fãs se sentirem tão próximos dele ao ponto de  chamarem-no simplesmente de Chico. Chico, como Zé. Como João. Como Pedro, o Pedreiro.

Acontece que Chico fala de temas tão habituais, tão ligados ao dia a dia do homem simples, que ao escutarmos suas músicas sentimo-nos em uma mesa de bar, conversando, face a face, com ele.

Além de suas músicas sobre o amor, capazes de, em qualquer ocasião, narrar os nossos próprios sentimentos, Chico narra, também, o Subúrbio - em especial, o subúrbio do Rio de Janeiro e, claro, essa música não poderia deixar de fazer parte do nosso roteiro -, mostrando que lá também há vida, também há cor, também há inspiração, mesmo nas casas sem cor, mesmo sem figurar no mapa, sem moças douradas.

Buscando essa aproximação com o subúrbio, fizemos um passeio no teleférico do Complexo do Alemão. Inaugurado em 2011, o teleférico faz um trajeto de 3,5 km, levando aproximadamente 15 minutos e liga 5 morros do Complexo à estação de trem. Além de servir para a locomoção da própria população dos morros, o teleférico tem atraído também a atenção dos turistas que querem conhecer as famosas comunidades retratadas em filmes. Agora, Chico, tem turistas, sim.

 Crédito: Rafaela Gambarra

Além disso, visitamos outros bairros citados na música. Irajá, Penha, Vigário Geral, Madureira. Detalhes, claro, no livro.


Mais:
Para quem quer conhecer um pouco mais das comunidades cariocas - narradas pela próprias comunidades -, uma boa dica é visitar o site Voz das Comunidades, ou seguir, no twitter, o perfil de Renê Silva (@rene_silva_rj).
Explico: Renê começou, com 11 anos, a escrever um pequeno jornal que circulava dentro da própria comunidade. Em 2010,  durante a pacificação do Complexo, tornou-se o correspondente da guerra em tempo real, pelo twitter, alimentando a grande mídia. Hoje, o que antes era apenas um jornalzinho e depois tornou-se uma conta no twitter, transformou-se no site Voz das Comunidades.


sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Linha de Montagem

Bem, por enquanto, a produção do livro está restrita às leituras. E são muitas, inúmeras. Parece que não é só o Rio que canta Chico. O mundo inteiro fala dele. A cada dia, descubro mais um livro, mais uma publicação, um outro autor, uma nova referência, um novo detalhe.

Em 'Para seguir minha jornada', por exemplo, descobri a paixão, desde cedo, que Chico cultivava por cidades. Quando pequeno, desenhada cidades imaginárias em pedaços do papel que enrolava a roupa vinda da lavanderia. Depois, 'ajudou a traçar a casa onde morou na Gávea (sim, Chico já morou na Gávea, embora hoje more no Leblon. E ambos os bairros fazem parte do roteiro do livro) e outra que construiu em Petrópolis e, não faz muito tempo, foi escolhido patrono de formatura de uma turma de arquitetura da Universidade Federal Fluminense'. A cidade que desenhava, quando criança, era feminina e se chamava Rosália. Hoje, a cidade que ele desenha em suas músicas, chama-se Rio de Janeiro. Desenha e desdesenha, com toda sua poesia.

Crédito: Google
Cidade imaginária desenhada por Chico Buarque


Em um de seus DVDs, intitulado 'Meu caro amigo', ouvi Chico falando o quanto o Rio é uma fonte de poesia para todos os compositores que resolveram narrá-la. Embora não se considere um carioca da gema, - ele se mudou para São Paulo quando tinha apenas 2 anos de idade -, narra o carioca como ninguém, da zona sul à zona norte.

Em 'Folha explica Chico Buarque', li  a matéria que Carlos Drummond de Andrade publicou no Correio da Manhã, em 1966, em referência à 'Banda'. Não sou das fãs mais fervorosas dessa música - embora compreenda a importância que ela teve na época em que foi criada -, e dessa vez tirei mais o chapéu para Drummond que para o próprio Chico.

'Se uma banda sozinha faz a cidade toda se enfeitar e provoca até o aparecimento da lua cheia no céu confuso e soturno, crivado de signos ameaçadores, é porque há uma beleza generosa e solidária na banda, há uma indicação clara para todos os que têm responsabilidade de mandar e os que são mandados, os que estão contando dinheiro e os que não o têm para contar e muito menos para gastar, os espertos e os zangados, os vingadores e os ressentidos, os ambiciosos e todos, mas todos os etcéteras que eu poderia alinhar aqui se dispusesse da página inteira. Coisas de amor são finezas que se oferecem a qualquer um que saiba cultivá-las, distribuí-las, começando por querer que elas floresçam. E não se limitam ao jardinzinho particular de afetos que cobre a área de nossa vida particular: abrange terreno infinito, nas relações humanas, no país como entidade social carente de amor, no universo-mundo onde a voz do Papa soa como uma trompa longínqua, chamando o velho fraco, a mocinha feia, o homem sério, o faroleiro... todos que viram a banda passar, e por uns minutos se sentiram melhores. E se o que era doce acabou, depois que a banda passou, que venha outra banda, Chico, e que nunca uma banda como essa deixe de musicalizar a alma da gente.', disse. (Veja aqui a matéria completa)

Tenho descoberto muito sobre Chico e sei que ainda tem muito mais a ser desvendado. Tenho me desesperado, chorado e gritado. Descobri que isso acontece, que é normal o medo da página em branco, a pressão do trabalho final - pior, do prazo final. Mas descobri muita gente disposta a ajudar, também. Vi, numa quarta-feira, a banda passando, e me enchendo de alegria. Vi Anne me mandando, por email, um saquinho cheio de esperança, com a possibilidade de conseguir marcar uma entrevista com o próprio Chico. Vi Matheus sendo mais que um namorado, sendo um amigo, companheiro e, mais que isso, uma bússola. Vi Thiago me dando doses diárias de alegria, dizendo-se empolgado com o trabalho. Vi mamãe sendo mais que mãe, sendo amiga, e mais que amiga, sendo mãe. E me vi começando a fazer os agradecimentos, sem nem ter começado a escrever o livro.

Melhor: descobri que Chico passou 15 anos para finalizar uma música de Dominguinhos.Posso alegar ter me identificado com o objeto de estudo. Hahahah, brincadeirinha.

Próximos passos: definir a divisão dos capítulos, modificar o layout do blog, encontrar um livro sobre a história do Rio de Janeiro (alguém indica um?) e terminar as leituras sobre Chico.



domingo, 5 de fevereiro de 2012

A vida do viajante

Crédito: Rafaela Gambarra

Eis a minha surpresa quando, ao entrar no avião, rumo ao Rio, dou de cara com a revista da Gol - imaginem só de quem eram os olhos verdes que estavam estampados na capa.

Exatamente. Chico.

E não foi só isso. Em cada esquina, uma referência a ele. Fosse a propaganda do show no outdoor estampado no meio da rua, fosse o novo CD na vitrine de uma lojinha no meio da cidade, fosse um livro novo (Para seguir minha jornada, de Regina Zappa - indico) sendo vendido na livraria da esquina.

No Rio, a cidade canta Chico e Chico canta a cidade.

A seguir, um trecho da matéria publicada na revista:

"Há duas características de Chico Buarque de Hollanda que ganham voo quando ele viaja. A primeira, mais conhecida, é seu lado andarilho. aonde quer que vá, Chico anda e desanda caminhos sem parar, com seus passos velozes e seu fôlego de atleta. A outra faceta, bem conhecida pelos amigos, mas quase invisível para o mundo, é o seu amor ágil e bailarino, capaz de inventar personagens, inventar que é quem não é, e fazer isso de forma totalmente desconcertante. Assume um ar de seriedade absoluta, o tom da verdade mais cristalina, para mentir desbragadamente.
(...)
Chico fazia uma turnê com o cubano Pablo Milanés. Vinham de Buenos Aires e de um êxito sem medidas. Certa noite, estávamos num táxi indo jantar. No banco de trás, o percussionista chico Batera, o produtor Vinícius França e eu (Eric Neomuceno, autor da reportagem). No da frente, ao lado do motorista, Chico.
O motorista volta e meia olhava para ele, tentando lembrar de quem se tratava. Um rosto conhecido, sem dúvida, que aliás estava em cartazes por toda a cidade. A certa altura, o motorista não aguentou e perguntou>
- Desculpe, mas conheço o senhor...
E aí começou uma das especialidades do chico viajante:
- Não, o senhor deve ter conhecido meu pai.
- Ah... e quem é o seu pai?
- Com a calma e a frieza de um cirurgião, veio a resposta:
- Manga. Lembra dele?
E assim, diante de um motorista atônito, ele virou filho do lendário goleiro do Botafogo, que em 1967 foi jogar no Nacional, do Uruguai, e virou ídolo do país. Chico então contou o que Manga andava fazendo, mencionou detalhes o pai dedicado que enchia o filho de orgulho. E, de tão feliz por ter conhecido o filho do grande Manga, que alias entendia de futebol quase tanto quanto o pai, o motorista não quis cobrar a corrida."

(em Revista Gol, número 118)




quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Fantasia

Crédito: Rafaela Gambarra


Ficamos hospedados na Lapa - que, diga-se de passagem, é um dos locais mais interessantes do Rio de Janeiro - e estávamos, diariamente, em busca do famoso malandro. Além disso, nos taxis, nas bancas de revistas e em todos os locais, aproveitávamos para perguntar se havia, na cidade, algum barzinho exclusivo dos fãs de Chico. Algo como o Vinícius Bar, localizado em Ipanema, exclusivo para os fãs do poetinha. De Chico, no entanto, ninguém sabia.

Quando estávamos indo para o show, avistamos um pequeno barzinho. Uma espécie de lanchonete, restaurante, o Boteco do Chico. Fiquei super animada, jurando que finalmente tinha achado um barzinho do Chico.

Mas...bem, acontece que nos enganamos. Assim que tivemos oportunidade, passamos por lá novamente e perguntamos a um dos atendentes se aquele Chico era mesmo o Chico. O Buarque. Afinal, na Lapa, Chico... Hm... Só que não era. Fiquei arrasada. completamente desolada, olhando para cara do garçom como quem olha para o nada. Na verdade, o nome do dono do boteco que era Chico. Só isso.

* Mais tarde, descobrimos na Rua Carioca - referenciada em Pivete - um outro barzinho. Não que seja o local onde os fãs de Chico se encontram, mas... disseram por aí que o próprio vai bastante por lá. Mais detalhes... vocês já sabem.